Quando o atacante paulistano Francisco Tadeu Macrini, ou simplesmente Tadeu Macrini (26/11/1952), o eterno goleador da história do Operário de Campo Grande, já arrasava com as defesas adversárias, no início dos anos de 1970, o garoto Adesvaldo José Lima (17/09/62), ainda vivia em Camapuã, onde nasceu, a 140 km de Campo Grande, e nem sonhava jogar no Estádio Morenão, muito menos fazer parte da legião de craques que o Galo campo-grandense tinha na época. Apenas torcia e observava o ídolo.
Mas o destino tratou de convergir pela aproximação dos dois. Quando chegou no Operário no final da década de 70, ainda juvenil, Lima olhava para o goleador Macrini com a admiração de fã e fazia de tudo para agradá-lo, até lavar o seu carro, um Puma de cor vermelha, que na época era uma espécie de marca registrada do atacante que havia acabado de sair da base do São Paulo.
Tadeu e Lima tiveram poucos anos jogando juntos no Operário, mas foi o suficiente para mexer com o coração de cada um e fazer surgir uma relação de amizade e admiração mútua. Tadeu Macrini sabia que ali estava um jogador de grande futuro e dava os melhores conselhos para o jovem jogador que quase foi parar no maior rival dos operarianos, o Esporte Clube Comercial, contra o qual havia um dos principais embates regionais do país na época, o clássico Comerário.
Lima chegou a ser negociado pelo seu pai com o Comercial, depois de ser reprovado no primeiro teste no Operário, mas acabou sendo “sequestrado” pela diretoria operariana, na época liderada por Irineu Farina, um tipo de dirigente que fazia tudo nem media consequências para beneficiar o seu clube, uma figura quase extinta no futebol moderno.
Mesmo ainda muito jovem, Lima diz que tinha plena consciência de que encontraria em Tadeu Macrini, no Operário, um espelho de como se tornar um bom atacante. Quando Tadeu foi negociado, Lima assumiu a posição de titular no comando do ataque operariano. Depois disso, os caminhos dos dois raramente se cruzaram.
Ao encerrar a carreira nos gramados, Tadeu Macrini virou empresário. Montou um laboratório, a Biomacro, criou o Gelobio, uma espécie de gelol e, depois de vender o laboratório, arriscou no ramo de restaurantes, chegando até duas cantinas de alto nível em São Paulo. Agora, aos 68 anos, vive apenas para os netos Enzo e Manu, casal de gêmeos, que a filha Fabienne lhe deu.
“Tadeu Macrini foi e sempre será meu ídolo”, disse Lima. “Como era gostoso ver esse cara dar uma arrancada em cima dos beques (zagueiros) e marcar gol. Ninguém segurava. Era um centroavante, estilo do Romário”, elogiou Lima. “Quando comecei a fazer gols nos treinos no Operário, tiveram que negociar o Tadeu. Ficou pesado pra ele”, brinca Lima, sorrindo para o ex-companheiro. “Não dava para a gente jogar junto. Tinha o Arthurzinho de meia que era um craque também”, lembra Lima.
“Queria jogar com o Lima, fazendo uma dupla que seria perfeita. Pedia para o Carlos Castilho, técnico do Operário na época, para colocar nos dois no ataque. Nunca fomos escalados na mesma equipe, infelizmente. Tinha certeza que daria certo porque tínhamos características diferentes”, completa Macrini.
Do Operário, Lima foi para o Corinthians. Ele era um dos destaques do Campeonato Brasileiro de 1984, passou a ser sondado por vários grandes clubes e no mesmo ano foi comandar o ataque corintiano.
Uma matéria de capa de a Gazeta Esportiva, principal jornal sobre conteúdo de esportes da época no Brasil, produzida com o atacante no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, em uma conexão do voo que trazia a delegação do Operário desde a capital do Rio Grande do Norte, onde enfrentou o ABC de Natal, foi decisiva para a sua contratação pelo Corinthians. Na mesma semana da publicação ele foi apresentado no Parque São Jorge como reforço do clube paulista.
Por Juarez Araújo – e Campo Grande News