Afinal, de que adiantam inúmeros protocolos de segurança para atletas e staffs se, justamente no momento de maior esforço, um ilustre desconhecido está gritando na sua cara? Aparentemente, os atletas que participam da prova também não gostaram nem um pouco da situação.
“Realmente é um problema. Acho que as fotos dizem tudo. Tive sentimentos mistos quando eu vi os torcedores no Peyresourde. Fiquei arrepiado com a adrenalina e pensei ‘esse sim é o Tour de France’, mas logo pensei que aquilo não poderia estar certo”, afirmou Nicholas Roche.
Para chegar nas montanhas, os torcedores só podiam ir de bike e o uso de máscaras era obrigatório, segundo as regras impostas pelas autoridades. Porém, mesmo assim, muita pessoas não usavam a máscara ou estavam com ela colocada de maneira incorreta.
“Eles estavam usando a máscara no queixo para gritar, mas também da pra gritar de máscara. Infelizmente é muito difícil de controlar e fiquei com pena dos policiais tentando lutar contra aquilo tudo”, complementou Roche.
Opiniões diversas
Hoje, no dia de descanso, os atletas farão testes para detecção da Covid-19. Em caso de positivo, o ciclista obviamente será retirado da competição. Se dois ciclistas da mesma equipe testarem positivo, a equipe toda será desqualificada – isso pode facilmente prejudicar muito a competição, causando até mesmo seu cancelamento. Por conta disso, segundo Dan Martin (Israel Start-Up Nation), até mesmo o medo de um falso positivo é grande.
Segundo ele, a ciência afirma que pegar Covid-19 de um torcedor na beira da estrada ou mesmo de outro atleta no pelotão são pequenas, mas todo o risco levanta questionamentos.
“A ciência diz que o risco de pegar de um torcedor na beira da estrada ou dentro do pelotão não é muito grande. Porém, ao mesmo tempo, será que vale a pena o risco?”, afirmou o atleta. Ele ainda afirmou que todos os envolvidos no Tour devem fazer sua parte para que a prova chegue até Paris.
“Da pra entender que é muito difícil para a ASO controlar tudo. Você não pode convencer cada uma das pessoas. Alias, essa é a história com toda essa pandemia. É sobre cada um fazendo sua parte e temos que confiar que os torcedores estão fazendo a parte deles”, continuou Martin.
“Cada torcedor que está de máscara ao lado da estrada deve sentir que está fazendo sua parte para que a corrida chega até Paris”, disse.
Falso positivo
Para Martin, além do risco de contrair a doença, outro grande medo é passar por um exame positivo falso. Para ele, ir para casa nessa condição seria muito injusto.
“Se você pegou, você pegou. Não é sua culpa. Mas acho que o maior medo de todos é um falso positivo. Obviamente, se você está doente, é melhor ir para casa, você precisa entender 100% isso. Porém, se for um falso positivo, não será justo ir para casa. Espero que amanhã ainda tenhamos 22 equipes correndo”, finalizou ele.
“É algo que está na cabeça dos ciclistas. E seria errado se não estivesse porque todos estão com medo de que a corrida não possa prosseguir. É simples assim”, complementou Roche.