Quando a bola rolar no gramado da Arena da Amazônia nesta quinta-feira (25), às 22h (horário de Brasília), terá início o último capítulo de uma das histórias mais importantes do esporte do país: Formiga vestirá pela última vez a camisa da Seleção Brasileira. Homenagens das companheiras e o calor da torcida estão no cardápio da festa, mas há um ingrediente especial: dona Celeste Maciel Mota, a mãe de Formiga, viajará de avião pela primeira vez para prestigiar o adeus da filha à Amarelinha.
“Eu estou super ansiosa, tenha certeza disso. Já comecei a me emocionar bastante desde hoje, então imagine o que vem aí amanhã (risos). Espero que todos possam se emocionar tanto quanto eu tenho certeza que vou. Principalmente minha mãe, que vai estar presente também, então vai ser uma alegria, nossa… ai, meu deus do céu! Vai ser uma alegria imensa e é maravilhoso poder compartilhar esse momento com vocês, especialmente aqui em Manaus, que é um lugar que realmente abraça o futebol feminino. Espero que vocês se divirtam também, aproveitem bastante esse dia, e que continuem a apoiar a Seleção nos outros jogos”, disse Formiga, em coletiva de imprensa concedida nesta quarta.
Seleção Feminina Principal treina antes da partida diante da Índia pelo Torneio Internacional de Futebol Feminino
Créditos: Thais Magalhães/CBF
Dona Celeste foi a grande incentivadora da filha, desde seus primeiros chutes. Se os irmãos não aceitavam que a menina da casa jogasse bola, proibindo-a e castigando-a, a mãe financiava a passagem para que Formiga fosse realizar seu sonho. De lá para cá, a meia de 43 anos, que dedicou a vida a ser uma embaixadora do futebol feminino, vê muitos avanços no combate ao preconceito contra a modalidade.
“Enfrentei dificuldades dentro de casa, é verdade. Por um lado, hoje vejo que era uma tentativa de proteção por parte dos meus irmãos, porque eu era a única jogando no meio de meninos, e acho que eles tinham receio de que algo acontecesse comigo. E nessa época não havia respeito nenhum pelas mulheres em qualquer modalidade, o que a mulher se propunha a fazer ela tinha essa barreira do machismo, que infelizmente é muito grande no nosso país. Mas acho que a gente tem conquistado esse respeito aos poucos. Hoje temos muitos homens parando para assistir futebol feminino, e por aí a gente vê que estamos atingindo esse respeito da maneira que tanto sonhamos e desejamos”, avalia.
Nos 26 anos de entrega à Seleção, com recorde de participações em Copas do Mundo e Olimpíadas, Formiga esteve presente nos instantes mais importantes da história da Amarelinha. Uma lembrança para ela, porém, é especial: a prata de 2004, a primeira medalha olímpica da Canarinho. Mas o momento atual também tem destaque na sua galeria.
“Uma das memórias que vai ficar para todo o sempre é a da conquista da nossa primeira medalha olímpica. Se eu pudesse fazer um quadro de um dos momentos mais importantes dessa minha trajetória, incluiria também o de hoje, por ver o crescimento do futebol feminino no Brasil. Acredito que hoje nós podemos sonhar com um futuro melhor na modalidade, em que essas meninas não terão que enfrentar metade das barreiras que enfrentei no começo, porque hoje o futebol feminino virou uma realidade. O legado é que elas continuem acreditando, porque a cada dia o futebol feminino brasileiro está melhorando”, pediu.
Seleção Feminina Principal treina antes da partida diante da Índia pelo Torneio Internacional de Futebol Feminino
Créditos: Thais Magalhães/CBF
Para além dos feitos históricos e recordes nas quatro linhas, Formiga sabe que deu tudo de si, dentro e fora de campo, na luta pelo desenvolvimento do futebol feminino brasileiro. O que ela deseja, agora, é ver que essas conquistas não param por aqui.
“Sem dúvidas, me sinto realizada. A sensação é de que fiz de tudo que estava ao meu alcance para ajudar a modalidade no país, mesmo nos momentos mais difíceis, em que o preconceito atrapalhava a nossa evolução. A sensação é de dever cumprido, totalmente, de que não deixei a desejar, especialmente vendo hoje essas meninas terem toda essa estrutura aqui dentro. Saio realizada e com esperança de que dias melhores sempre virão para a Seleção Brasileira e o futebol feminino no Brasil”, disse.
Para a torcida que se acostumou a ver Formiga e mais 10 em campo, a meia deixa um recado: o futuro das Guerreiras do Brasil é promissor. Ela, que agora se junta à arquibancada, comentou suas expectativas para o futuro da Seleção.
“Eu acredito muito nas meninas que estão chegando agora. Elas estão tendo a oportunidade de trabalhar com uma treinadora que tem um currículo invejável e está ensinando muitas coisas para elas. O que eu espero é que elas tenham esse comprometimento, porque a nossa luta continua. Temos ainda muito o que conquistar e eu espero que essas oportunidades que estão surgindo, não só para as meninas que estão aqui agora mas para outras também, sejam aproveitadas. Temos uma base, algo que a gente vinha lutando bastante para que existisse. Temos que lapidar esses diamantes para que tenham oportunidades de conquistar o mundo, e que elas possam ter vida longa aqui na Seleção, que construam uma história linda, que se identifiquem muito com o futebol feminino, que possam ter êxito aqui dentro e conquistem o respeito e o reconhecimento de todos no fim de suas carreiras”, projetou, detalhando também seus planos futuros.
“Após esse jogo de despedida, eu ainda tenho vínculo com o São Paulo até o fim do ano que vem. Pretendo descobrir novas Formiguinhas, novas Martas, novas Cristianes e assim por diante, porque a gente precisa alimentar o futebol feminino para conquistar uma Copa do Mundo e um ouro olímpico. Acredito que ambos são possíveis, a gente só precisa dar continuidade a esse trabalho, descobrindo novos talentos e dando oportunidade a essas meninas na Seleção”, concluiu.