Jogador Vitoriano destaque do time de Porto Murtinho em 1973 (foto-EMS)

A década de 70 foi agitada na fronteira Brasil-Paraguai com o grande movimento dos transportes e do Exército Brasileiro. Em Porto Murtinho, cidade distante há 430 quilômetros da hoje Capital Campo Grande, era um pulsar de movimento com o comércio da Erva-mate, através da Companhia Laranjeira. O interposto comercial teve um papel importante para a região e a colonização dos dois países. O Exército Brasileiro sempre teve um papel de integração entre as cidades fronteiriças entre os poucos mais de 1,2 mil quilômetros de fronteira, que cruza toda a região leste do hoje Mato Grosso do Sul.

E dentre uma das atividades que “unia”, mas que tinha uma grande rivalidade estava o futebol. Em Porto Murtinho, a 2ª Companhia de Fronteira do Exercito sempre foi apontada como a “bam-bam-bam” da região. Nas competições do EXB, o selecionado conseguia bons resultados e revelava também jogadores para as temporadas seguintes.

Time da Companhia de Infantaria do Exército Brasileiro de Porto Murtinho da década 70/80

Um dos marco da Companhia aconteceu no início dos anos 70. O novo comandante, Major de Infantaria, Antônio Alves de Mattos, assume o cargo e diante do que teve conhecimento apontou: vou trazer um grande time para jogar aqui. Isso ficou gravado na mente de muitos, enquanto que murtinhenses disputavam vários jogos acirrados pela região. E é claro, até duvidaram que pudesse acontecer.

E a garra e determinação do Major acabou surpreendendo a todos. Sem fazer alerde, ele começou articulação para trazer no dia do aniversário do município de Porto Murtinho, o seu time do coração: o Flamengo. A cidade, naquela época completaria 61 anos, e tinha apenas um local de pouso de aeronaves de transporte. O major então foi até Assunção, capital do Paraguai, e conseguiu emprestado uma aeronave para fazer o transporte dos jogadores e comissão técnica até Porto Murtinho. Até hoje, não se sabe, mas articulou com os dirigentes da Gávea e o time saiu do Rio de Janeiro, foi até a Capital Paraguaia e depois para Porto Murtinho.

Time alternativo do Flamengo da década de 70 com Luxemburgo e cia

Em 1973, o time carioca não teve um bom ano. Havia perdido o Campeonato Carioca, Taça Brasil e o então treinador Zagalo acabou não participando de todos os jogos. Ele estava dividido entre o Flamengo e a montagem da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo de 74. Jogadores como argentino Dorval, Paulo César Caju, Dada Maravilha, Liminha, e um garoto que vinha se destacando chamado de Zico, entre outros não viriam com o time carioca. Mesmo assim é claro que o Major queria o time na cidade em que comandava o Exército Brasileiro.

Ao retornar e anunciar que o Flamengo iria estar na cidade para a partida entre um selecionado de Porto Murtinho, foi uma festa só. Data confirmada: 13 de junho de 1973.

Para formar o elenco, o major convidou o treinador Francisco Ayube, já então conhecido pelo trabalho que fazia com os times da região. E para isso, montou um elenco na ponta dos dedos, afinal não seria uma partida qualquer. Entre os convocados estava Vitoriano Ajala. Um meia canhoto que já havia jogado como ele desde as categorias preliminares. Habilidoso e com chute potente, Vitoriano estava na seleção de Carlos Camisão, na cidade de Aquidauana, também dentro do do Exército Brasileiro. Ele havia sido transferido para reforçar o time do pelotão para exatamente fazer frente aos times da região e também para enfrentamento aos times de Campo Grande.

Selecionado de Porto Murtinho montado para enfrentar o Flamengo

Com Vitoriano, Francisco Ayule formou o seguinte time para enfrentar o Flamengo naquele 13 de junho: Elias, Paredes, Clemente, Alumínio, Chicão, Cabreira, Ramão Morinigo, Mario, Mojarrita e Pedro Paulo.

O Flamengo jogou com Renato, Chiquinho, Rondinelly, Marinho e Luxemburgo; Vicentinho, ******, Adílio, Geraldo e Arilson.

A derrota para o Mengão pelo placar de 2 a 1 até hoje ainda é comentada na cidade. Os três gols foram marcados pelos jogadores de Porto Murtinho. Dois do zagueiro Alumínio, a favor do Flamengo, mas que apesar de lembrarem que os gols foram dele, na pratica ele tentava salvar acabou jogando contra as próprias redes. Os dois gols foram em desvio. O gol do time local foi do vascaíno Vitoriano. Hoje, aos 74 anos, Vitoriano Ajala, aposentado na função de cabo do EB, ainda mora na pequena cidade do interior de Mato Grosso do Sul.

Meia Vitoriano que marcou gol contra Flamengo em 1973


Por aqui, ainda consta que realmente o cabo Vitoriano era “bom de bola”. O então comandante do EXB, Gregório Gomes, relata que realmente ele era diferenciado. “Esse ai jogou muito”, comenta ao ver o cabo dar entrevista para falar do jogo que marcou a história da cidade. Dos grandes clubes do futebol brasileiro, somente o Flamengo teve essa aventura de desembarcar na terra que comandava a Erva Mate. Por aqui já teve Olímpia e Cerro Portenho, ambos do Paraguai, e o Operário de Campo Grande, que também teve uma grande acessão nos anos de 77/78 quando chegou entre os quatro do futebol brasileiro.

O estádio dessas lembranças não existe mais em virtude das enchentes do Rio Paraguai. Um novo foi construído pelo então governador Zeca do PT inaugurado como o nome de Walfrido Concha. No futebol sul-mato-grossense profissionalmente, o time do Porto disputou a segunda divisão em 2009, mas nunca mais retornou.

A lembrança da data também está no facebook dos amigos da cidade. No link abaixo, você pode acompanhar os comentários feitos por aqueles que viveram o momento em que marcaram a vida de muita gente

https://www.facebook.com/434680573383730/posts/945027225682393/

AS ENCHENTES (fonte-CampoGrandeNews)

Entre 1970 a 1990, a cidade enfrentou quatro enchentes, sendo a maior delas em 1982 quando a população se mudou para o quilômetro 6 e foi formada a Cidade de Lona. No mesmo ano foi construído o dique de contenção ao redor da cidade, o que evitou outra inundação na cheia do rio Paraguai em 1988, uma das mais graves já registradas.

A construção do dique, inaugurado em 1985, colocou Porto Murtinho como uma das únicas cidades no mundo a ter uma estrutura do tipo circundando toda a cidade, mas não apenas isso. A obra foi repleta de denúncias de irregularidades, incluindo desvio de verbas.

Moradores ficaram sem tudo e tiveram que mudar a cidade para o Km 6

Em 2008, o dique recebeu uma nova obra de recuperação, que também teve seu episódio trágico. Parte do concreto ruiu e foi parar no rio. Em outro deslizamento, na mesma época, um operário de 45 anos morreu. Foi aberta uma investigação, que acabou concluída sem apontar responsabilidades. Prevista para 2011, a reforma do dique foi entregue ao custo de R$ 7,6 milhões, segundo divulgado, com recursos da União e do Governo do Estado.